quinta-feira, 27 de março de 2014

EU, O REI E A RAINHA



Na década de setenta, a vida social e cultural de Sousa teve como guia uma dama de ouro, uma mulher de ferro. Conviveu com Lindalva Dias, a filha de Pedro João, a batalhadora incansável, a vencedora de todas as lutas.

Tive a felicidade de conviver com esse gênio por longos anos, nas campanhas em prol da melhoria da cultura, educação, a liberdade de ação e destacadamente a luta contra o racismo e a descriminação de ricos contra pobres, na cidade de Sousa.

Nas artes cênicas ela foi rainha do Teatro de Amadores de Sousa, acompanhando passo a passo o movimento efervescente daquele grupo teatral, razão maior das vitórias da cultura sousense.

Quando lancei meu nome para a presidência do Sousa Ideal Clube, em 1981 contei com o apoio daquela mestra da alegria. Ela teve grande participação na minha vitória, aliás como candidato único.

Histórica no levantamento das massas através do FERCASA, o maior festival regional da canção em todo o sertão paraibano.

Lindalva era a verdadeira rainha das grandiosas “festas de setembro”, transmitindo sentimento de alegria nas barracas da Virgem dos Remédios.

Educadora de grandeza superior, não permitindo a divisão de classes, fazendo sempre a união entre pretos e brancos, nobres e relegados. Para ela não existia o feio, todos eram bonitos.

O sorriso da “rainha das noites” brilhava sem cessar nas ruas de Sousa. Não tenho notícia de ter visto Lindalva tristonha, decadente ou amuada.

Pisava firme nas longas ruas sousenses. Não conhecia o orgulho acima do bem, não reclamava da dor, não chorava a tristeza e nem se maldizia nos momentos da derrota.

Assim era Lindalva, que hoje será a “Rainha do Parque”. Relembro a admirada do povo sousense, dançando a noite inteira no dia 28 de junho de 1981, no BNB Clube de Sousa, festa de São Pedro, animada por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.

As noites da Cidade Sorriso eram tristes quando ela não se fazia presente. Todos lhe chamavam de o “Pé de Valsa”, pois era conhecida como a melhor dançarina da terra de Bento Freire.

No ano de 1982 tive a felicidade de dançar com ela a valsa da minha formatura como advogado, no dia 10 de julho, no Sousa Ideal Clube. Foi a última vez que bailei nos salões do meu clube com o riso e a simpatia daquela dançarina de ouro.

Numa noite enluarada, por volta das vinte e duas horas, mais uma vez no glorioso Sousa Ideal Clube ela me sapecou uma frase muito forte que ainda recordo a cada instante: “Chico, você está vendo todas essas pessoas aqui, todas de joelhos diante de tu. E tu de joelho diante de uma só pessoa”. Ri pra ela, ela riu pra mim, adentramos ao clube e desfilamos garbosamente com alegria, nossa eterna companheira.

Hoje, a saudade é matadeira. Ela me faz falta. A única fotografia que tenho me foi entregue pelo irmão Julimar.

Para eternizar essa grandeza da alegria peço licença aos diretores do Parque Cultural “O Rei do Baião”, a fim de colocar o seu retrato nas galerias gonzagueanas e chama-la para sempre de “Rainha do Parque”.

Ela e Luiz Gonzaga conduzirão esse pedaço de terra do semiárido nordestino aos píncaros da glória, iniciando o voo na Fazenda São Francisco, passando por Lagoa Redonda, Massapê dos Dias, Sousa, Exu e concluindo a viagem no Reino da Glória e da Fé.

O Rei e a Rainha.

Escreveu: Francisco Alves Cardoso – 25/03/2014

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