quinta-feira, 24 de julho de 2014

UM DEUS NO MUNDO DOS HOMENS


No tempo que a capital paraibana era chamada Nossa Senhora das Neves, em dezesseis de junho de 1927 nasceu uma criança que mais tarde se tornaria um Deus para o mundo, no campo da cultura. Deus este que ganhou a credibilidade total da comunidade mundial, pela inteligência suprema que espalhou entre os povos que acreditaram na sua capacidade de fazer, agir e criar um novo mundo com responsabilidade e respeito.

Falo do gênio Ariano Vilar Suassuna, filho do Presidente do Estado, à época, João Suassuna e Cássia Vilar.

Advogado em 1950, mas iniciou logo cedo a mostrar a força de um dos maiores teatrólogos de todos os tempos. Escreveu peças famosas como “O Rico Avarento” e o “Auto da Compadecida”.

A partir de 1956 levou ao palco a fama das peças “O Casamento Suspeitoso” e “O Santo e a Porca”.

A grandeza cultural desse paraibano o fez membro fundador do Conselho Federal de Cultura. Mas foi em 1970, em Recife que criou o Movimento Armorial, um modelo novo destinado ao desenvolvimento do conhecimento das formas de expressão populares tradicionais.

Na construção do Santuário de Ar Livre, em São José de Belmonte, com a criação de dezesseis esculturas de pedra, representando o sagrado e o profano, ele ganhou a maior notoriedade. Foi considerada a verdadeira inspiração no “Romance da Pedra do Reino”.

Esse ídolo morreu. E já está no reino da cultura verdadeira, aclamado como um Deus entre a terra e o céu, pois esses dois centros não admitem perdê-lo, pois necessitam da sua sabedoria abençoada pelas vozes santas do Universo.

Relembro com alegria a imagem sempre alegre de Ariano Suassuna, no ano de 1988 quando liberou dois textos teatrais de sua autoria, “O Casamento Suspeitoso” e “O Auto da Compadecida”, para que o Teatro de Amadores de Sousa tivesse condições de leva-los ao palco por esse nordeste a fora, sem a obrigação de pagamento dos direitos autorais.

Relembro, também, entusiasmado que no “Auto da Compadecida” fiz o papel do palhaço, artista que me fez um ser corajoso da arte cênica, dinâmico e aplaudido por onde me apresentei.

Depois tive um novo encontro com Ariano Suassuna, no “Teatro Severino Cabral”, em Campina Grande, por ocasião do Festival de Inverno organizado pela minha madrinha de artes cênicas Eneida Agra Maracajá. Naquele dia conheci a força da alegria do Rei Ariano. Em poucas palavras ele transformava o ambiente em festa, riso e confraternização.

Considero Ariano o maior dramaturgo paraibano, em todos os tempos. E foi ele que transformou a Paraíba maior por esse mundo a fora, no campo cultural. Todos nós da arte de Gil Vicente somos adeptos desse Deus dos tempos sagrados da cultura santa que nunca morrerá.

No entanto, o grande momento da minha vida com Ariano aconteceu no Centro do BNB Cultura, na cidade de Sousa, em 2013, quando tive a oportunidade de saudá-lo agradecendo a liberação dos seus dois textos teatrais, sem a obrigação dos direitos autorais, já que o TAS estava iniciando e não tinha força para arcar com tamanha responsabilidade financeira.

Fiz o agradecimento, entreguei um exemplar do meu livro “Política: Paixão e Ódio” e beijei as mãos do meu ídolo, cena realmente inesquecível.

Logo depois de tomar conhecimento da morte desse monstro sagrado da cultura resolvi consultar membros do Parque Cultural “O Rei do Baião”, para dar o nome de Ariano Suassuna a Ala onde será celebrada a Primeira Missa do Vaqueiro, naquela localidade, no dia nove de agosto deste ano de 2014. O pedido foi aprovado e a homenagem será prestada.

Ariano era católico e levava para todos os lugares a imagem de Nossa Senhora gravada em uma medalha. Era ela que, segundo ele mediava as conversas que tinha com Deus, principalmente quando os pedidos eram muitos. “Converso muito com Deus, todos os dias. E entra muito assunto, muitos pedidos. Vergonhosamente, acho que tem mais pedido que agradecimento. Quando acho que estou incomodando muito, recorro a medianeira de todas as graças, que me acompanha a todo momento e para todo o lugar que vou, levo”.

As perdas na vida de Ariano vieram cedo. Aos três anos de idade, o pai foi assassinado e esse episódio o marcaria pelo resto da vida. O pai, João Suassuna governou a Paraíba de 1924 a 1928, e foi barbaramente assassinado quando exercia o mandato de deputado federal, em 1930.

Portanto, por ocasião da Missa do Vaqueiro, no Parque Cultural “O Rei do Baião” vamos rogar pelo inesquecível Ariano, o Padroeiro da Cultura das Terras de Nossa Senhora das Neves.

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